Epidemia e o sistema de Manchester no Brasil.

Pressupostos para o uso do sistema de Manchester em casos de epidemias reconhecidas

As epidemias são causa importante de aumento da procura pelo serviço de urgência e podem causar uma desestruturação temporária no balanço de oferta e demanda em um serviço numa determinada região. Frente a esse aumento de demanda que é temporário é preciso que os gestores tenham em mente que será necessário um aporte  na oferta de serviços, seja na estrutura física ou na estrutura de recursos humanos. Esse aumento de oferta pode e deve ser monitorada a partir do período de crescimento e decréscimo característica da epidemia que vai depender de uma série de fatores(modo de transmissão, sazonalidade etc..) calculáveis pelas autoridades responsáveis. A estratégia local para o calculo dos recursos pode ser feita a priori e modificada durante o processo da epidemia, utilizando metodologias conhecidas(ex: queue theory).

As mudanças no atendimento do serviço de urgência devem levar em consideração:

  • A forma de transmissão do patógeno da epidemia
  • A especificidade no manejo clínico
  • A noção de que apesar da epidemia o serviço permanece recebendo pacientes  com quadros clínicos do dia a dia.
  • O limite de atendimento do serviço sem precisar de auxílio externo.
Baseado nessa lógica de mudança temporária é interessante levarmos em conta que as mudanças no modelo e estrutura de atendimentos deve seguir um planejamento a priori, como nos casos de planos de catástrofes feitos por serviços hospitalares, ou seja:
  • Utilizar o sistema de classificação de risco (triagem)  que a equipe já utiliza para situações do dia a dia e prever fluxos separados para a epidemia a  partir de “sinais e sintomas de alerta ” previstos pela equipe no sistema de classificação de risco vigente
  • Os fluxos da epidemia devem ser separados do fluxo de atendimento normal, sendo que o manejo clínico específico e protocolado deve ser feito por equipes treinadas.

No caso do sistema de classificação de risco de Manchester que é composto de 50 fluxogramas e de vários discriminadores, devemos apontar quais desses fluxogramas e discriminadores apontam para um risco maior do paciente ter a doença da epidemia em causa. Não é desejável que se crie a  partir desse momento uma triagem específica para a doença em curso, pois isso teria que ter como pressuposto que todo paciente que chegasse ao serviço de urgência estaria com a doença, o que configura um diagnóstico prévio e que pode levar a erros de undertriage para situações clínicas “corriqueiras” (ex: um paciente com IAM).

Quais as propostas para o uso do MTS  na dengue?

  1. Determinar quais os fluxogramas e discriminadores associados que levam a pensar na hipótese da doença.
  • Fluxogramas:
  • ALERGIA,
  • BEBÊ CHORANDO,
  • CEFALEIA,
  • CONVULSÕES,
  • CRIANÇA IRRITADIÇA,
  • DOR CERVICAL
  • DESMAIO NO ADULTO,
  • DIARREIA E/OU VÔMITOS
  • DOR ABDOMINAL NO ADULTO
  • DOR ABDOMINAL NA CRIANÇA
  • ERUPÇÃO CUTÂNEA
  • MAL ESTAR NO ADULTO
  • DOR LOMBAR
  • MAL ESTAR NA CRIANÇA
  • PAIS PREOCUPADOS
Estes seriam os fluxogramas de alerta. Se dentro destes fluxogramas o classificador parar em alguns discriminadores, o fluxo deve seguir a Área específica para o atendimento da dengue:
  • EX: ALERGIA- pulso anormal, saturação baixa ou muito baixa ,dor ou coceira(intensa, moderada e recente)
  • BEBÊS CHORANDO- sinais de dor intensa ou moderada, resposta a voz ou a dor apenas, prostração hipotonia, erupção cutânea fixa, criança quente.
  • CEFALEIA- erupção cutânea fixa, criança quente, adulto muito quente e quente, dor moderada, febril, vômitos.
  • CONVULSÕES- erupção cutânea fixa, criança quente, adulto muito quente ou quente, febril.
  • CRIANÇA IRRITADIÇA- sinais de dor intensa ou moderada, erupção cutânea fixa, criança quente, não entretável, não se alimenta, choro prolongado ou ininterrupto, febril.
  • DESMAIO NO ADULTO- adulto muito quente ou quente, dor intensa ou moderada, febril.
  • DOR CERVICAL- erupção cutânea fixa, criança quente, adulto muito quente ou quente.
  • DIARREIA E/OU VÔMITOS- criança quente, adulto muito quente ou quente, dor intensa ou moderada, sinais de desidratação, vômitos persistentes, febril,vômito
  • DORES ABDOMINAIS NO ADULTO- adulto muito quente ou quente,dor intensa ou moderada, vômitos persistentes, vômitos.
  • DOR ABDOMINAL NA CRIANÇA- sinais de dor intensa ou moderada, criança quente, erupção cutânea fixa, inconsolável pelos pais, vômitos persistentes,vômitos.
  • DOR LOMBAR- criança quente, adulto muito quente ou quente, dor intensa ou moderada*
  • ERUPÇÃO CUTÂNEA- erupção cutânea fixa, adulto muito quente ou quente, criança quente, febril
  • MAL ESTAR NO ADULTO – O risco especial de infecção, erupção cutânea fixa, adulto muito quente ou quente, hipotermia*, dor intensa ou moderada, iní­cio súbito, história de viagem recente(para áreas com epidemia reconhecida),febril
  • MAL ESTAR NA CRIANÇA – sinais de dor intensa ou moderada, criança quente, hipotermia*, sinais de desidratação, febril
  • PAIS PREOCUPADOS- sinais de dor intensa ou moderada, erupção cutânea fixa, prostração ou hipotonia, criança quente, choro prolongado ou ininterrupto, inconsolável pelos pais, sinais de desidratação , febril.

Se um destes discriminadores for positivo, o paciente deve fazer o circuito previsto para o atendimento da dengue. Neste setor será seguida após avaliação médica o protocolo de manejo específico.

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